A desvalorização da palavra de Deus frente a movimentos suspeitos.

“Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi;

aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos,

no meio dos anos a notifica: na ira lembra-te da tua misericórdia.”

(Habacuque  3.2)

Há alguns dias, estive em uma festa de jovens em um bairro aqui da minha cidade e me deparei com tal situação:

Ao nos aproximarmos da igreja, chegou-nos a notícia de que não havia mais lugar dentro do templo. Uma jovem que nos acompanhava comentou:

 - Hoje é um pregador de Camboriú que vai pregar.

De imediato, me bateu curiosidade para saber de quem se tratava.

Não mais entrarmos na igreja – depois de muito esforço para conseguir lugar – e nos acomodarmos, iniciou-se o período dedicado à exposição da palavra. O “pregador” iniciou sua fala com a leitura do versículo acima citado, e quando li o texto na qual ele basearia sua pregação fiquei empolgada com o que estava por vir.

Logo após o término da leitura, uma revelação.

– Ok! Deus sabe como dirigir o culto... – Pensei.

Terminou essa revelação veio outra, e outra, e outra, e outra... e assim foram todos os minutos dedicados à palavra.

Se houve pregação? Não, não houve... Foram apenas revelações.

E depois de muito pecar murmurando, resolvi abandonar o culto. Mas por quê? Deus não usa as pessoas como quer? E se Deus quis que esse culto fosse assim? Tudo bem, concordo! Deus é realmente soberano e atua como bem quer, mas vale lembrar que Deus não é Deus de confusão (1 Coríntios 14.32). Você entenderá o porquê de dizer isso.

Qual é o problema de um culto assim? Respondo: Observe dois cultos. Um onde a palavra de Deus é ministrada e outro onde só haja revelações. No primeiro, todos saem edificados, pois ouviram a voz de Deus. No segundo, só saem edificados os que foram ‘revelados’, e muitos até se frustram porque ficaram o culto inteiro pedindo que Deus também lhes revelasse e isso não aconteceu. Deus frustra as pessoas?

Mas não, esse não foi o motivo pelo qual abandonei o “culto”. Vou dizer qual, ou melhor, quais foram. Foram frases e atitudes como essas proferidas pelo pregador que influenciaram na minha decisão:

1_ “Se você não der glória, não vai ser revelado!”

E desde quando Deus coloca condições para me dizer algo, me curar de algo? Se Ele realmente quiser fazê-lo, o fará em qualquer lugar, a qualquer hora, e não me colocará condições para isso. E se tivesse algum mudo ali?

2_ “Se fosse a tua mãe / vó, você dava glória, né?!”

Desculpe-me irmão, darei glória quando eu realmente sentir no coração de fazê-lo, e de nenhuma maneira, lhe farei pensar que estou gostando ou apoiando-o com os meus glórias de aprovação.

3_ “Sai do chãããããããããão!”

Podíamos colocar uma ‘batida bem maneira’ nessa frase, e quem sabe isso nos animaria a sair do chão.

4_ “Vamos, igreja. Pula! Sapateia!”

Coloca a mão no chão, sobe, desce, dá uma voltinha...

5_ (Assopros no microfone)

Desculpe, não soube como descrever isso...

6_ “O anjo só irá visitar a casa de quem orar mais alto!”

É, acho que o anjo não visitou a minha casa... E o que dizer de Mateus 6.6? “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechando a porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará.”

7_ “Quero ver crente pulando, saltando os bancos!... Pule até alcançar as lâmpadas!”

Ah, claro! Agora a casa do Senhor virou o quê? Os crentes são malabaristas de circo? As pessoas se esquecem do que está escrito em II Coríntios 14.40: “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”

8_ “Abrace o irmão que está ao seu lado e diga que o ama muito.”

Tá certo que Deus mandou que amássemos o nosso próximo, mas, será que realmente amo aquele que está ao meu lado? Se assim não for, e dizer que amo, não estarei sendo hipócrita, mentirosa?

Também poderia dizer que ele usou o microfone da igreja para chamar os que não estavam acreditando que no que estava acontecendo de sem-vergonha e vagabundos, que humilhou dois irmãos em público... Mas o que quero realmente registrar aqui são alguns versículos que esse “pregador” parece desconhecer.

Em Efésios 4.29 está escrito: “ Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.” Meio contraditório em comparação ao que ele disse, não?! E Efésios 5.8 diz: “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: andai como filhos da luz”, e o versículo 11 do mesmo capítulo diz: “E não comuniqueis com as obras das trevas, mas antes condenai-as”. Quem costuma usar esse tipo de vocabulário não são os filhos das trevas? E repetindo essas palavras ele não está se associando às obras das trevas?

E também poderia dizer que todas as coisas que ele “revelou” tinham algo a ver com a macumbaria, ou a pessoa estava doente por culpa do diabo.... Mas aí penso: E as tantas pessoas que a Bíblia conta que ficaram doentes? E homens de Deus como Paulo, Eliseu e Timóteo? A Bíblia relata que eles ficaram doentes em algum momento da vida deles...Quer dizer que eles estavam também endemoninhados?

Mas, depois de ouvir tanta ‘baboseira’, a gota d’água para a minha indignação foi ele dizer: “Vamos, igreja! Vamos dar tchau pro diabo!”

Hã?! Eu ouvi direito? Eu não quero ter nada a ver com ele! Não vou me despedir dele porque ele não faz parte da minha vida, não é meu colega pra eu dar tchauzinho...

Os nossos pregadores estão se esquecendo da verdadeira essência da pregação, a oração, e se esquecem que só seremos salvos através de Jesus Cristo, e da graça, e não pelas obras miraculosas que saímos fazendo por aí.

É através da pregação cristocêntrica que passamos a conhecê-Lo, e se não nos é exposta a palavra, não O conhecemos, e não O conhecendo, nos corrompemos, e consequentemente, nos destruímos.

“O meu povo é destruído porque não me conhece, e a culpa é toda de vocês, sacerdotes, porque se recusam a me conhecer. Por isso, Eu não os reconhecerei como sacerdotes; já que se esqueceram das minhas Leis, Eu me esquecerei de abençoar os seus filhos.” (Oséias 4.6)

Que possamos lembrar os nossos pregadores desses versículos: “Perseverem em oração, velando nela com ação de graças; Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do ministério de Cristo [...]; para que se manifeste, como me convém falar”.(Colossenses 4.2-4) Que tenham claro que é através da oração que alcançarão sabedoria de Deus para ministrar a palavra, que é através da oração que alcançarão as verdadeiras bênçãos de Deus, e claro, que não se esqueçam de agradecer quando elas vierem. Mas só orando poderão falar da palavra. Porque se assim fizerem, evitarão falácias e atitudes mais que suspeitas como as tomadas pelo ‘pregador’ em questão.

E que não nos esqueçamos do que está escrito em 2 Timóteo 4.2: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.”

E se alguém ainda duvida: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.” (Efésios 5.14)

Por Alinee Santos,

E baseado em II Tessalonicenses 5.21: “Examinai tudo. Retende o bem”.